quinta-feira, 30 de setembro de 2010

existe sim uma beleza que é inesgotável

naomi ito - textil designer


existe sim uma beleza que é inesgotável,
que insiste em florescer mesmo quando tudo em volta está seco.
ou inundado.
obrigada, tati (clique aqui) pelo manoel de barros
que chegou hoje de manhã, 
como pão fresco que faz carinho no corpo todo.
calço um par de galochas quentinhas
para encarar a minha liberdade,
sem congelar.

quem anda no trilho é trem de ferro,
sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.


galochas kenzo 2011 - foto de nel mio angolino - milano

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

existe sim uma beleza que é inesgotável



um vestido ou túnica assim, com cores de temperos e mangas amplas para voar sem sair do chão. enfrentar os ventos que se apresentam nesta primavera com a convicção de um flor que já sabe que é fruto e flor ao mesmo tempo e vibra.ouvindo-a contar, deu-se conta de como a transparência no diálogo não é presente que todos desejam aceitar, alguns são tão presos às suas próprias verdades que não vêem e ouvem nada além do que julgam ser si mesmo e suas grandes verdades, aquelas que vão dispersando um a um, causando desconforto e insatisfação, desfazendo um trabalho que poderia ser tão produtivo e humano. para que se deixar levar pela clausura do outro? o que impressionava era como alguns que se consideravam os mais livres eram apenas folhas ao vento, levados pra lá e pra cá.teciam comentários que não conduziam a nenhum lugar além da auto-afirmação sem rumo.não íam fundo no que é essencial, valorizavam apenas o que é supérfluo e  descartável e não aceitavam nenhuma reflexão conjunta. pensou de novo nos mineiros presos sob o solo chileno distribuindo lideranças espontaneamente e fazendo valer o que une, afastando-se do que pode matar.sem clichês, aqueles clichês que tornam tudo tão chato, rígido e obsoleto.mas ela era sábia, aproveitava tudo para a sua contínua construção. faltava pouco (percebia enquanto a ouvia) para ela aprender a diferenciar madeira nobre de madeira perecível, usada nos andaimes, útil apenas enquanto a construção se fundamenta e ergue.lembrou mais uma vez de nitiren daishonin,o sábio budista do século 13, ao questionar se alguém que está construindo uma grande obra se desfaz da madeira nobre para ficar com a madeira perecível dos andaimes... já viu alguém manter os andaimes para descartar madeira nobre? crie esta imagem na sua cabeça e bote pra funcionar no seu coração.esse era o desejo tanto da que ouvia quanto da que contava. a verdadeira sinceridade irradiava integridade. alguns ainda iriam levar um tempo para construi-la,outros não construiriam nunca.




baukultur


ela sonhava em ter um banheiro assim. um banheiro fundo de cena para realçar as formas do corpo humano, e seus pensamentos (porque se o corpo não for a alma, o que será a alma?,né whitman?). as ondas, as linhas retas,a torneira masculina, as luzes de camarim,queria tudo assim.poderia mudar a cena todos os dias tendo esta arquitetura como base.uma flor, uma poesia,um potinho de creme que sai e volta para o armário, um secador, todos transitariam por ali com nova vida e expressão.não era daquelas que ficam horas no banheiro. preferia chuveiro com pressão bem forte à banho de banheira.fazia sim de todo banho um ritual como se estivesse ao ar livre,nadando entre flores de lótus.tudo cabia aqui e poderia entrar e sair quando quisesse.limpo, leve e refrescante.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

ânsia





vou mais uma vez para o mergulho como quem responde ao silêncio. ou como quem não se esconde do espanto.diz o poeta (clique aqui)
e eu? 
mergulho
no intervalo 
entre
o espanto 
e o 
silêncio. 
não o silêncio de quem cala, consente.  esse não.
também não quero palavras tolas.

meu minimalismo



o meu minimalismo não é tendência que sei lá quem propõe, é consequência, assim como a pomba de picasso ou os quadros de paul klee.ou a antiga arte oriental da caligrafia feita numa pincelada só. é encontrar essência depois de muita experimentação, é passar peneira fina depois de muita vivência, flexibilidade,purificação de escolhas, abertura ao novo, compromisso solitário e compartilhado, vivenciado na alma e no corpo. nada a ver com tudo off-white. o meu minimalismo surpreende até a mim,despede-se e agradece o excesso que foi processo.é assim.ying e yang. lang lang. síntese de renascimento e bauhaus. deu pra entender?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

+ um poemantra

foto de james meakin

e tinha também
este outro poemantra,
do español jorge guillen,
que ela cantava
enquanto:


respiro
y el aire en mis pulmones
ya es saber
ya es amor
ya es alegria

atmosfera 2:26



ela iria escrever bem miudinho para que só quem quisesse muito lesse.
parole crude,vere,realiste,esagerati,conflitualli.
era barroca e minimalista ao mesmo tempo.
qual a canção que iria cantar agora sobre os ossos -
como lhe ensinara clarissa?
tinha vontade de uivar muito alto,
as mandíbulas amanheceram presas.
lá do outro lado do mundo
e sempre aqui,ele lhe lembrou que
 o ouro submetido ao fogo, purifica,
enquanto as rochas viram cinzas.
e a poeta cozinheira lhe lembrou 
que por ser impelida a criar 
por um impulsoincontrolável,
assim mesmo, tudojunto nestemomentoagora,
tinha a consciência de ser autêntica.
ela também.
cozinhara tudo no domingo
com muito amor e
disciplina meditativa.
a chuva era boa,.
sim, vírgula e ponto.
o frio também.
ficou em silêncio o resto do dia
com o coração batendo no
baixo ventre.
deu um beijo rápido
na boca dele.
tomou vinho
oferecido pelos amigos
na noite anterior.
tudo em silêncio
com o coração batendo
no baixo ventre.
desejou estar em split,
lembrou da pequena lamparina
que comprou lá num antiquário.
e da falsa tia  de split que mentia sobre a
própria biografia.leu e achou muito claro,
o seguinte: quando uma pessoa vive
em ira, até parece humilde, mas 
na verdade,é um autêntico "puxa-saco"
porque teme o forte e ameaça o fraco.
quem se encontra nesse estado irado
está sempre atormentando aqueles
que o superam e, ao mesmo tempo,
temendo que a sua verdadeira natureza seja exposta.
(e se o corpo não for a alma,
então o que será a alma?
ai, walt, que bom te conhecer.)
manter a confiança acesa
num mundo tão distorcido
era uma tarefa heróica.
ela não queria ser herói,
só ela mesma.






rendada sempre
rendida jamais.




domingo, 26 de setembro de 2010



durante muitos anos tive este poema, da tradição esquimó, pregado na porta da geladeira.já o publiquei aqui.hoje fui buscá-lo. é incrível como ele me acalma, abraça, eu gosto muito dele e ele gosta de mim. merci.









i think over again
my small adventures
my fears
those small ones
that seemed so big
for all the vital things i had to get and to reach
and yet
there is only one great thing
to live to see
the great day
that dawns
and the light
that fills the world.

sábado, 25 de setembro de 2010

ai, meus nastúrcios


nastúrcios - pintura de jeremy lipkin


where is my acqua vitae no. quero os meus nastúrcios in natura!
chico aparece de repente, do nada, cantando na minha memória,por trás da voz de mr. o'reilly, que explica apaixonadamente as imagens e metáforas de shakespeare, até se esquece que está numa sala de aula,volta para a sua inglaterra que, graças a ele, passou a ser minha também desde menina.porque chico canta essa música antiga agora? não sei. estou aqui e longe daqui.o tempo virou, a maré subiu. as ondas batem mais fortes,ele já adormeceu.ela acaba de ir. é bom criar de madrugada e a casa ser um ateliê e um camarim, gosto disso, é meu chão e minha transcendência.será que vou conseguir ver o filme da juliette? achei lindo e real ela dizer que representar não é reproduzir. representar é criar uma conexão com o que há de mais sincero nas suas experiências sensíveis residuais...e ao desprender essa energia, para dar vida ao gesto de um personagem, você precisa se perguntar por que aquela figura faz aquele gesto. ao perguntar isso, eu entendo o seu comportamento, eu descubro sinceridade. descubro e imprimo. também acredito nesse processo.é como a vida, enquanto só no texto é tudo muito mental.as palavras , em certos momentos, levam a um limite que parece que vai ultrapassar a linguagem, levantam tantas camadas...às vezes, quando chego nesse ponto, de levantar camadas e camadas por trás das palavras,chega a me dar um certo desconforto físico e existencial, uma parte de mim diz "me tire daqui" enquanto o som das palavras vibra no ar.quero os meus nastúrcios e suas folhas redondas.não gosto (na verdade, detesto) de gente que já encostou em técnica e experiência e acha que por isso está dominando, faz tudo tão certinho que nada vibra.binoche diz que os diretores são como jardineiros. eles tem que olhar para um ator como uma flor a ser aparada. só que essa apara demanda paciência. é preciso olhar a flor e  saber quando ela precisa de água.estou com sede.preciso dormir mas não quero.não tenho insônia, nunca tive. tenho uma certa tristeza que eu chamo de tristeza inteligente e que, de madrugada, quando aflora, fica mais aguçada e perceptiva.preciso de silêncio assim como quem é louco por festas.mas agora estou escrevendo.ponto.parei.vou descobrir.o gesto. e imprimir.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

meus interiores

yang yongsheng - 1967

humanos







é muito raro nascer humano.
mais raro ainda é tornar-se um ser humano.
nitiren daishonin, sábio budista, século 13


tudo o que sabemos sobre a evolução da vida na terra aponta para a raridade dos seres vivos complexos. estamos aqui não porque o universo é propício à vida, mas apesar de sua hostilidade.
devemos celebrar nossa existência por sua raridade e não por ser ordinária.
marcelo gleiser, cientista, século 21

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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

this is a love sound

quando a casa ficou pronta, o mestre de obras mostrou um fogareiro rústico que encontrara no fundo da terra e contou que ali seus ancestrais se reuniam para pescar,assar os peixes e conversar em volta da fogueira.perguntou se poderia ficar com o que, para ele , era uma relíquia. eles concordaram.a casa foi inaugurada. o tempo passou. numa noite fria de inverno estavam só a mãe e a menina na casa.o marido e todos os amigos tinham retornado à cidade. a casa, no meio do vale cercada por montanhas, parecia, como dissera mme eli, o centro de um grande e natural mandala.o silêncio só não era absoluto porque os músicos dizem que não existe silêncio absouto.a menina dormia em seu quarto aquele sono de criança que aproveitou intensamente o dia junto à natureza. a mãe estava tão relaxada, apagou a luz da mesinha de cabeceira e ficou no escuro deitada.começou a ouvir uma música linda, uma melodia tocada num acordeon que estava ali perto e distante. ficou pensando de onde viria, já que o vizinho mais próximo era longe e não tinha acordeon. na manhã seguinte ainda lembrava da música e a cantarolou. no fim da tarde, o mestre de obras veio visitar a familia, tinham ficado amigos.conversaram, tomaram café com biscoitos e quando ela contou o que acontecera e cantou para ele a melodia do acordeon, ele sorriu e disse que era uma música que o seu bisavó costumava tocar,voltou a falar sobre as pescarias,o fogareiro de pedra,etc.ela ter captado a música, para ele foi mais que natural. ela ficou intrigada, onde ficavam guardados esses sons? 

this is a love sound



foi um dos presentes mais lindos que ganhou este ano, marcante para sempre. a mãe do amigo voltou de uma longa temporada na áfrica, em que esteve visitando a filha, genro e netos.lá ela completou seus 80 anos e teve uma festa com pessoas de várias partes do mundo.ela lhe deu o presente que ganhara de uma italiana, assim, de repente, no meio de uma conversa, durante o lanche preparado com muito amor, levantou e, cheia de energia, foi rápido e trouxe: um coração feito de madeira nobre e resistente,um costume do local,toda casa precisa ter um. agora ela pensava na clarissa pinkola estées, a contadora de histórias e analista junguiana que, com suas obras procura resgatar a força da vida em sua origem e pureza, ao dizer: não é tão difícil compreender por que as velhas florestas e as mulheres velhas não são consideradas reservas de grande importância. clarissa fala sobre a nossa cultura que transforma os ciclos naturais em ritmos artificiais para agradar aos outros. segurou o coração entre as mãos como uma jóia, assim como as histórias que ouviu sobre a sua vida.era tudo o que ela precisava ouvir naquele exato momento para não desanimar, reafirmar  e manter viva a sua própria natureza instintiva,saudável.
abelhas voam. provam a primavera.

sylvia plath

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

relembranças simultâneas

manuscrito sobre ervas medicinais do séc.VII - museu de nápolis
foto de janine niepce - 1957
acordou e desejou um chá de alecrim, resgatar aquela alegria pura como erva que nasce feliz e confiante no seu jardim.lembrou com saudade das suas flores de nastúrcio laranjas e amarelas  colhidas na hora para perfumar a salada que amava fazer, o sabor picante das suas folhas redondas que espantam o que pode vir a inflamar,os cremes e loções milagrosas que sua avó fazia, o livro, precisava mandar traduzir aquele livro que estava todo em alfabeto cirílico, aguardando voltar à vida, lá na dispensa, olhou para o forte de copacabana e se viu de novo em dubrovnik. estava em vários lugares ao mesmo tempo, guardava o cheiro da lenha e da sálvia e do fumo formando pequenas estrelas na brasa do último fim de semana, o enorme miolo incandescente da fogueira dentro da mandala de minúsculas flores brancas, a ilustração do conto que amava na infância,as três ervilhas, tudo o que tem que ser traz força,disse a terceira ao ser atirada ao mundo, aquela que curou a menina que ninguém sabia o que tinha, devia ser melancolia. viu a lua cheia nascer sobre o mar, as luzes dos muros do forte se acenderem, caminhou rumo ao metrô com morangos frescos na bolsa para a fértil reunião, subiu as escadas da mais antiga farmácia da europa, aquela que conhecera em dubrovnik, e decidiu que daqui em diante confiaria cem por cento nos seus próprios sentidos interiores. eles faziam sentido.sempre fizeram.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

verdade e realidade



sim, o livro que r. traduzira sobre astrologia  e deixara em sua casa era interessante mesmo.sim, ela acreditava na influência dos astros no fluxo das marés,na formação de personalidade e tendências, assim como as estações do ano influenciam o plantio e a colheita disso ou daquilo. tudo que ampliava um real auto-conhecimento era válido, desde que se mantivesse acesa a consciência de que o ser humano pode transformar a si mesmo e influenciar o meio ambiente e não ser só influenciado por ele.isso exigia esforço, conhecimento e mais que tudo, desejo, vontade.achou interessante quando releu o ensaio de anais nin contando que teve a sorte de encontrar um analista que em vez de focar sobre suas dores e neuroses focou todo o trabalho sobre a vontade de criar. ...percebi que ele condicionara todo o problema da vida humana ao problema da vontade de criar, e que esperava que essa vontade encontrasse as suas próprias soluções. submetida ao desafio, minha vontade de criar se reforçou, permitindo que eu começasse a mudar minha vida pessoal. foi uma mudança de dentro para fora; como uma força capaz de resolver os conflitos e as dualidades.é por isto que dou tanta importância ao artista - ele já traz esse poder dentro de si desde o princípio.mesmo nos períodos mais negros da história, os acontecimentos exteriores poderiam ter sido modificados se todos nós tivessemos um centro.só no nosso mundo individual podemos transformar a feiúra, os horrores da guerra, os males e crueldades do homem, para criar um novo ser humano. isso não implica em desinteresse nem fuga.não podemos escapar da história, porque precisamos manter nossas responsabilidades para com a sociedade; mas temos de criar um centro interior de força e resistência às desilusões e fracassos, provenientes dos acontecimentos exteriores.hoje luto por causas que considero válidas, mas que fazem parte do mundo da ação, enquanto o mundo de onde tiramos nossa sabedoria, nossa lucidez, nossa capacidade de agir e nossa coragem é esse outro mundo, que não constitui um refúgio mas um laboratório da alma." concordo.

abençoado pesadelo


um olé nos opressores,aqueles externos, que surgem para testar a validade dos sonhos, da fé na vida, da sobrevivência dos sentimentos mais preciosos e profundos.um pesadelo que libertou alguma tensão que restou, escondida em alguma pequena gaveta do seu inconsciente.ah, que bom...pensou...não ter nem prisão de ventre nem prisão de inconsciente.acordou gritando feito criança.ele a abraçou e logo ela se reconheceu no quarto enquanto aquele lugar horrível se desfazia na mente.no pesadelo, o roteiro era digno de hitchcock e não aquela pobreza-filme-b que aconteceu na realidade, ela disse para ele.encontrar com os opressores externos, os guardiões da ilusão e da máxima escuridão-corrupta-que cega,aqueles cujo papel é extinguir a chama que arde por ideais construtivos, é um grande sinal de que estamos no caminho certo, lembrou.chocante,realidade nua e crua.dias depois um amigo comentou rindo que ele andava cortando, como o princípe da bela adormecida, aquele matagal de gravetos duros entrelaçado de espinhos no caminho de suas realizações. lembra? conforme ele ía se aproximando do topo da montanha descia em profusão aquele mato sem folhas, só espinhos, para impedir a sua chegada.esse era um dos cult movies de sua infância.engraçado ele comentar isso.ah...mas os opressores que se despediram no pesadelo já representaram muito bem o seu papel de mata fechada sem verde e dragão malvado cuspindo fogo e se contorcendo todo.e ainda foram dirigidos, no seu pesadelo, por hitchcock!...tudo ficou claro como sol de meio-dia. ela se viu acordada e vacinada, muito grata no final por ver de perto, e de olhos bem abertos, como eles agem e qual o papel deles.agradeceu, naquela madrugada no quarto, a ela mesma, por sempre estar sempre atenta para que os opressores externos não encantassem ou seduzissem algum provável opresssor interno,ainda oculto de sua própria consciência.ela abominava preconceitos, julgamentos, mas não podia ser presa fácil, tinha que manter acesa sua intuitiva capacidade de avaliação, aquela que a vida criativa treinava. avaliação é criadora, julgamento, não.

verdade e realidade

ouro é ouro
mesmo quando
está sujo de terra

domingo, 19 de setembro de 2010

tempo amigo



ela adormeceu no sábado com o coração pleno, olhou mais uma vez o presente lindo que o garoto lindo encontrou na terra, sob uma cúpula natural de rochas,o pequeno cristal com várias facetas lapidadas formando um mosaico liso e macio de brilhos e pequenos arco-íris, pensou em cada uma daquelas pessoas de novo,reviu todos os olhos e sorrisos, pensou naquelas rochas imensas, na força da natureza, na força dos corações e mentes que se fizeram presentes naquele lugar mágico,o rústico preservado.riu quando ouviu de novo a voz de p., e seu fulminante olhar quase turquesa, dizendo calma quando o cinto de segurança não queria soltar e ela queria saltar do carro logo, como uma onça pintada,selvagem no melhor dos sentidos, feliz por aquilo tudo, por todos.acordou com uma voz feminina,soul,um misto de billie holiday e cássia eller cantando, num ritmo tão diferente,não...não podia ser....era...copacabana, princesinha do mar.... ficou entre os lençois apreciando a nova versão de uma música que ela nem gostava tanto... mas a voz e o ritmo rápido e vibrante a hipnotizaram.em seguida vieram os atabaques afro seguidos de percussão turca e cítaras e...ela foi lentamente à janela e viu uma multidão se formando, ocupando a praia inteira, mulheres de sari, baianas,crianças, homens com túnicas negras parecendo magos...era uma passeata pela liberdade de expressão religiosa.fez um café,passou ricota com azeite nas finas torradas e admirou, admirou, pensou...ele comentou que era bom que tivesse uma próxima passeata pela liberdade política e outra pela liberdade econômica diante de tudo o que estava acontecendo agora.não, não havia nenhum representante daqueles que não respeitam a liberdade religiosa, claro.ela pensou nos fanáticos, nos que mentem, nos que recusam diálogo e dizem o contrário,nos que se drogam por não terem força suficiente para suportar mentes e corações drogados ou por viverem com fome, muita fome por novas sensações,nos impostores,nos egoístas sem cura, na simpatia ensaiada,nos sorrisos que escondem violência e censura,nos manipuladores, populistas que alimentam a ignorância de alguns para encher o próprio bolso com fortunas que escondem do povo, tudo num instante.aquela passeata fazia muito sentido sim...as religiões deveriam encontrar um ponto em comum que dignifique a vida do homem,que faça com que cada vida adquira um valor, descubra uma riqueza interior para colocar em ação na vida, para proteger o ambiente humano e natural.jamais criar, como disse anais nin,"um povo incapaz de pensar e julgar por si mesmo, seguidores incondicionais das forças de corrupção". a manhã passou, a multidão se dispersou e deixou sua energia no ar, voltou a tarde nublada, a praia vazia, as ondas, algum ou outro carro, o latido do cachorro na calçada, quase ninguém na rua, a brisa fria e refrescante.e um monte de gente no seu coração.ela carregava uma tatuagem invisível a olhos nus, com estas palavras: harmonia da diversidade.desde cedo aprendera que essa é uma verdadeira riqueza, uma fonte de inesgotáveis recursos.longe de todo e qualquer corporativismo.

uma roda que se expande





sabática, essencial, possível e palpável.
a essência real do que é de fato saber fazer amor. e unir.
o que não tem medo de se despedir do que se compraz em destruir.
a energia que compactua com o que quer crescer, florescer,
retornar à primavera,
a energia que assume várias formas,
árvores nativas, plantas,flores, pedras, rochas,cristais,
pássaros,minhocas que oxigenam o solo,
sol,chuva,
noite estreladas e escuras, 
pessoas.
tudo o que doa vida e expressão máxima de sua própria identidade 
em orgânica conexão,
em espontânea relação 
com o tempo que nutre, 
aquele que não mede ou 
controla mais ou menos idade,
o tempo que se faz vivo 
porque é presente.
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